Nova Política praticada pelo Partido NOVO. VAMOS PLANTAR UMA SEMENTE BOA. >> Como as águas do Rio São Francisco, que se renovam nas nascentes da Serra Canastra em MG e desaguam no mar, depois de muitos trabalhos realizados, nasceu o Partido NOVO 30 para irrigar o Brasil de uma Política sadia, construtiva e agregadora. Este Blog, até as eleições será um ponto de discussão dessa Nova Política.
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quarta-feira, 22 de abril de 2009
A GRAÇA DE SER SÓ
A graça de ser só - Pe Fábio de Melo
Há pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar
Ando pensando no valor de ser só. Talvez seja por causa da grande
polêmica que envolveu a vida celibatária nos últimos dias.
Interessante como as pessoas ficam querendo arrumar esposas para os
padres. Lutam, mesmo que não as tenhamos convocado para tal, para que
recebamos o direito de nos casar e constituir família.
Já presenciei discursos inflamados de pessoas que acham um absurdo o
fato de padre não poder casar.
Eu também fico indignado, mas de outro modo. Fico indignado quando a
sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida
sexual. Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em
argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa ao contexto do
"pode ou não pode".
A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é muito mais.
Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos
coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de
doação plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar
a vida que levo. Não poderia privar os meus filhos de minha presença
para fazer as escolhas que faço. O fato de não me casar, não me priva
do amor. Eu o descubro de outros modos. Tenho diante de mim a
possibilidade de ser daqueles que precisam de minha presença. Na
palavra que digo, na música que canto e no gesto que realizo, o todo
de minha condição humana está colocado. É o que tento viver. É o que
acredito ser o certo.
Nunca encarei o celibato como restrição. Esta opção de vida não me foi
imposta. Ninguém me obrigou a ser padre, e, quando escolhi sê-lo,
ninguém me enganou. Eu assumi livremente todas as possibilidades do
meu ministério, mas também todos os limites. Não há escolhas humanas
que só nos trarão possibilidades. Tudo é tecido a partir dos avessos e
dos direitos. É questão de maturidade.
Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só. Não vivo
lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz sendo
quem eu sou e fazendo o que faço. Tenho meus limites, minhas lutas
cotidianas para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma
experiência de lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida.
Não tenho medo das minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a
compreender o significado da misericórdia. Eu não sou teórico. Vivo na
carne a necessidade de estar em Deus para que minhas esperanças
continuem vivas. Eu não sou por acaso. Sou fruto de um processo
histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer para dentro
do meu coração. Deus me mostra. Ele me indica, por meio de minha
sensibilidade, quais são as pessoas que poderão oferecer algum risco
para minha castidade. Eu não me refiro somente ao perigo da
sexualidade. Eu me refiro também às pessoas que querem me transformar
em "propriedade privada". Querem depositar sobre mim o seu universo de
carências e necessidades, iludidas de que eu sou o redentor de suas
vidas.
Contra a castidade de um padre se peca de diversas formas. É preciso
pensar sobre isso. Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve
os problemas do mundo.
Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais
públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras nem
olhares. Não descobriram a beleza dos detalhes que a castidade sugere.
Fizeram sexo demais, mas amaram de menos. Faltou castidade, encontro
frutuoso, amor que não carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive
de outras formas de carinho.
É por isso que eu continuo aqui, lutando pelo direito de ser só, sem
que isso pareça neurose ou imposição que alguém me fez. Da mesma forma
que eu continuo lutando para que os casais descubram que o casamento
também não é uma imposição. Só se casa aquele que quer. Por isso
perguntamos sempre – É de livre e espontânea vontade que o fazeis? – É
simples. Castos ou casados, ninguém está livre das obrigações do amor.
A fidelidade é o rosto mais sincero de nossas predileções.