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quarta-feira, 29 de abril de 2009

As Florestas Plantadas de Eucalipto, o Uso da Terra e a Produção de Alimentos no Brasil

Mini-Artigo Técnico por Celso Foelkel As Florestas Plantadas de Eucalipto, o Uso da Terra e a Produção de Alimentos no Brasil O Brasil é um País de dimensões continentais e com relativamente alta população. São cerca de 185 milhões de habitantes ocupando uma área total de 8,51 milhões de quilômetros quadrados (851 milhões de hectares). Dessa área total, cerca de 460 milhões de hectares são biomas ainda naturais e protegidos, o que corresponde à metade da área territorial do País. Destacam-se os biomas: Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal Mato-grossense, Mata de Araucárias (Pinhais), Mata dos Cocais, Zona Costeira e Pampa. Tecnicamente, sobrariam então cerca de 390 milhões de hectares para as ocupações de pessoas, agricultura, pecuária, reflorestamento, etc. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as lavouras agrícolas ocupavam 77 milhões de hectares em 2006; as pastagens 175 , e as matas e florestas 100 milhões de hectares (APPs e RLs - áreas de preservação permanentes e áreas de reserva legal; mais as áreas de florestas plantadas). As autoridades brasileiras argumentam que o País ainda dispõe de cerca de 90 a 140 milhões de hectares para expansão da agricultura, pecuária e silvicultura, sem que ocorra comprometimento das áreas naturais protegidas. Os ambientalistas contestam isso, pois acreditam que áreas importantes de ecossistemas naturais em regeneração (especialmente do Cerrado e Mata Atlântica) estão aí contabilizadas. De qualquer maneira, as áreas para expansão ainda são enormes. Adequados planejamentos e zoneamentos ecológico/econômico por estado e municípios poderão ajudar em muito para que o Brasil atinja um adequado nível de sustentabilidade sócio-ambiental e de produção econômica. Com isso, na situação ideal, os biomas estariam protegidos e a economia crescendo, gerando benefícios e felicidade à população crescente. Bom, não basta sonhar, é preciso fazer acontecer. O setor de base florestal pode e deve participar desse processo na busca dessa sustentabilidade integrada a nível de País e não apenas de empresas individuais ou de setor. Não podemos também esquecer que as produtividades agrícola e florestal do país estão em acentuado crescimento. Temos atingido produtividades excepcionais com a soja, a cana-de-açúcar, o eucalipto, o milho, o Pinus, etc. Existe um esforço grande por parte da área ambiental do Governo para que a agricultura e pecuária também passem a respeitar mais a legislação ambiental, em termos de APPs e RLs, da mesma forma como faz hoje a silvicultura. Os agricultores têm reagido fortemente, contra-argumentando que faltarão áreas para plantios agrícolas e pastagens e isso resultará em redução da produção agropecuária e de alimentos. Dentre as lavouras e cultivos, as mais significativas em uso da terra são: soja = 22 milhões de hectares; milho = 9,5 ; cana-de-açúcar = 6 ; pastagens cultivadas = 100; florestas plantadas = 6. As pastagens naturais, muitas empobrecidas, ocupariam 80 milhões de hectares. Observem então que existe amplo potencial de crescimento para os cultivos mais qualificados tecnologicamente a partir de áreas já degradadas pela agricultura e pela pecuária intensivas e de baixas tecnologias. (http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/2006/default.shtm) Na verdade, o que precisa ser buscado e alcançado é uma gestão integrada e não conflitiva para os diferentes uso da terra. Com isso, otimizam-se as cadeias produtivas, as inter-relações entre elas, melhora-se a competitividade e preserva-se o que deve ser preservado. As continuadas pesquisas para aumentos de produtividade e capacidade produtiva da terra também deveriam ser privilegiadas. O setor de florestas plantadas utiliza em geral áreas de baixa aptidão agrícola, com baixa capacidade de produção de alimentos. São terras que foram bem usadas pelas pastagens e agricultura anual, empobrecendo com isso. Essas terras são mais baratas, mais facilmente trabalhadas para as plantações de florestas e compatíveis com as exigências das espécies florestais em uso no País. O setor florestal também utiliza terras com declive acentuado, pouco adequadas à moderna agricultura altamente mecanizada. Com isso, também colabora na conservação desses solos declivosos por colocar sobre eles cultivos de ciclos mais longos. A área de florestas plantadas corresponde a 0,7% da área territorial do País; a 1,65% da área tecnicamente agriculturável; a 6% das áreas definidas pelo IBGE como Matas e Florestas dentro da área do Brasil que está sendo ocupada pela população com finalidades produtivas (http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/2006/utiliza.pdf). Os eucaliptos correspondem a 65% das florestas plantadas no Brasil, fica portanto fácil se calcular sua participação percentual no uso das terras. Deve-se ainda acrescentar que o setor de florestas plantadas é grande preservador de matas e florestas naturais, através de manutenção e enriquecimento das áreas de preservação permanente e de reserva legal. Isso aumenta bastante sua participação no que o IBGE classifica como Matas e Florestas. Apesar do impacto do setor de florestas plantadas ser pequeno sobre a produção de alimentos no País, por usar terras degradadas, ele existe. Isso acontece por duas razões: • ao plantar florestas em solos degradados agrícolas ou de pastagem, mesmo que eles tivessem baixa capacidade de sustentar esses tipos de produção, essas áreas deixarão de produzir algum alimento; • ao proteger as áreas de preservação permanente (várzeas alagadas, margens de rios e lagos, etc.) e de reserva legal, e que não estavam sendo protegidas pela agricultura ou pecuária, estaremos convertendo áreas de produção de alimentos em áreas de proteção ambiental. Excelente para o meio ambiente, para sustentabilidade, mas com impacto na produção de carne, arroz, milho, etc. Concordam? Nas regiões onde são plantadas florestas para uso industrial e energético, as áreas dos municípios são ocupadas em cerca de 5 a 30% pelos hortos florestais das empresas. Em relação aos estados grandes produtores de florestas plantadas (Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro, etc.) a ocupação da área territorial do estado com florestas plantadas varia de 2 a 6%. Em relação às áreas agriculturáveis desses estados, a percentagem varia de 5 a 20%. Como os piores solos são utilizados para as florestas plantadas, ainda sobram suficientes áreas melhores para a agricultura. Entretanto, deve ficar claro, que solos pobres são preferenciais, mas não são exclusivos para o setor de florestas plantadas. Existe relativa quantidade de florestas plantadas sobre solos de melhor qualidade em termos de fertilidade, topografia, etc. Para evitar conflitos potenciais pelo uso da terra e para melhorar o entendimento da sociedade em relação ao tema florestas plantadas e produção de alimentos, é importante que o setor continue seu aperfeiçoamento técnico e que se integre mais nas atividades rurais e agrícolas em suas áreas de influência. Com isso, estará favorecendo sua produção florestal, mas também colaborando para a produção de alimentos. É muito comum ouvir dos ambientalistas que a sociedade não come eucalipto e por essa razão, o condenam. Esquecem-se de que nem só alimentos são necessários para a felicidade e a sobrevivência das sociedades. Entretanto, trata-se de argumento poderoso, não restam dúvidas. O primeiro passo para melhorar isso é a participação mais efetiva do setor de florestas plantadas nos estudos de zoneamentos agro-florestais e para uso da terra, como tem acontecido em estados como Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Com isso, estaremos colaborando para que sejam delimitadas com mais segurança e qualidade os diferentes componentes das paisagens brasileiras, tais como: agricultura, pecuária, florestas plantadas, matas nativas e ecossistemas naturais, sítios arqueológicos e históricos, cidades, áreas industriais, etc. O setor florestal tem apoiado esse tipo de zoneamentos, tendo inclusive participado nos estudos e diálogos públicos. Atualmente, a produção integrada de alimentos nas áreas de florestas plantadas ainda é escassa. Poderiam ser citadas: produção de mel a partir das flores dos eucaliptos; produção de carne por pastoreio no sub-bosque; uso de alguma área de aptidão agrícola para produção de alimentos (arroz, pomares de frutas, etc.) por algum tipo de parceria com fazendeiros rurais. Vale a pena lembrar que no Chile e em Portugal, países de reduzidas áreas agriculturáveis, o problema é bem maior. Lá, algumas empresas de base florestal estão inclusive envolvidas com algum tipo de agricultura para produção de alimentos. É o caso da Portucel/Soporcel - Portugal (com plantio de uvas para vinho - http://www.portucelsoporcel.com/pt/group/docs/04.html; http://www.portucelsoporcel.com/pt/group/docs/05.html ) e Arauco Nueva Aldea (Vinhas, vinho e azeite de oliva - http://www.elsur.cl/diarioelsur/pagina.php?pagina=08&fecha=20080413). Apesar de muitos pesquisados nas universidades brasileiras e nas próprias empresas florestais, a agrossilvicultura e os sistemas silvipastoris são vistos pelos executivos dessas empresas mais como atividades a serem realizadas pelos fazendeiros/agricultores do que por elas. Toda pesquisa dedicada a essas ciências tem sido orientada para ajudar a melhorar a produção florestal e agrícola do produtor rural, através dos programas de fomento e parceria florestal. São pouquíssimas as empresas do setor de base florestal que objetivam se transformar em complexos negócios agro-florestais. Pelos conhecimentos da agrossilvicultura, o produtor rural pode continuar utilizando suas áreas com vocação agrícola ou pecuária e nas terras de pior qualidade plantar árvores consorciadas ou não com pastoreio de gado ou alguma cultura intercalar. Existem inúmeros modelos em uso pelo Brasil, mas na sua enorme maioria na propriedade do agricultor. A grande verdade é que existem dezenas de oportunidades à nossa disposição para que o setor de florestas plantadas possa produzir suas madeiras e cooperar para o crescimento da produção de alimentos no País. A primeira e mais fácil de todas seria a cooperação na transferência de "know-how" tecnológico para a agricultura, mais precisamente para os médios e pequenos proprietários rurais. Em geral, as empresas de base florestal são estado-da-arte tecnológico (silvicultura de precisão, mecanização, hidroponia, conservação do solo, fertilização e nutrição de plantas, controle biológico de pragas, biotecnologia, etc.). Através de um envolvimento maior a nível de cooperação, muitos desses conhecimentos poderiam ser transferidos e compartilhados com os agricultores regionais, alavancando assim a produtividade agrícola local. Isso poderia ser feito através de cursos, seminários, demonstrações, estágios, etc. Esse envolvimento e integração ajudaria a comunidade rural na diversificação e melhoria de suas atividades, no incremento de rendimentos agrícolas, redução de custos, e na preservação do patrimônio natural, histórico e arqueológico. Outras fantásticas alternativas existem e enumerarei algumas a título de exemplo para vocês. Outras muitas poderiam ser citadas e encontradas, basta refletir mais sobre o todo e não sobre a minha área florestal apenas. Vejam só como podemos agregar maior produção de alimentos e sustentabilidade nas regiões onde atuamos, através de: • desenvolvimento de códigos integrados de boas práticas agrícolas e florestais; • produção de bens alimentícios (frutos, sementes comestíveis, cogumelos, etc.) e fitoterápicos (ervas medicinais) a partir das áreas de preservação permanente e reserva legal (a ser desenvolvida com as instituições ambientais); • diversificação da produção nas áreas próprias, utilizando as terras com maior aptidão agrícola para produção de alimentos (ou por conta própria ou em parceria com terceiros). Uma alternativa seria usar os conceitos desenvolvidos pela agrossilvicultura e sistemas silvipastoris também em terras próprias. Mas para produzir mesmo e não apenas como campos demonstrativos. • produção de mudas das culturas agrícolas regionais nos viveiros de última geração do setor; • manejo das áreas florestais com rotação com culturas agrícolas anuais - especialmente leguminosas (feijão, soja, tremoço, grão-de-bico, etc.) ou leguminosas forrageiras (guandu, leucena, soja-perene) - ou plantas arbustivas de maior porte (pomares de ciclo mais longo para diminuir as intervenções antrópicas na área "em descanso" florestal" -exemplo: mamão, etc.); • forte apoio nos programas de proteção e conservação do solo a nível regional; • idem para os programas de proteção à hidrologia local, com instalação de micro-bacias de monitoramento não apenas em áreas de florestas próprias, mas envolvendo as áreas rurais adjacentes; • estabelecimento de parcerias com órgãos públicos de extensão e pesquisa do setor agrícola e pecuário; • forte apoio na transferência de conhecimentos sobre gestão ambiental e de resíduos sólidos (compostagem, uso agrícola de resíduos, etc.); • disponibilização de áreas próprias de terra para uso por terceiros qualificados para atividades como pastoreio, apicultura, piscicultura, pomares frutíferos, etc.; • colaboração com agricultores locais para a obtenção de certificações de produtos agrícolas, nos moldes que existe para a certificação florestal; • etc. etc. O maior envolvimento do setor florestal no estabelecimento e implementação de políticas e estratégias rurais regionais com certeza favorecerá o crescimento e a competitividade dessas regiões. Todos sabemos que para uma empresa ser competitiva ela precisa estar localizada em uma região competitiva. Não há mais como garantir competitividade se a região onde estamos for miserável e com baixas qualificações. Quanto mais qualificados forem nossos vizinhos, melhores seremos nós também. Por isso tudo amigos, vamos refletir um pouco mais em como acelerar essas e outras oportunidades. Com elas, estaremos dando um nível maior de multi-funcionalidade à silvicultura e exercitando melhor nosso papel de empresa cidadã. Estaremos colaborando para que a rede de produção das florestas plantadas seja cada vez mais uma rede de valor para nós e para a Sociedade Brasileira.