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quarta-feira, 29 de abril de 2009

AQUECIMENTO GLOBAL: Os mitos do eucalipto

23/04/2009 AQUECIMENTO GLOBAL: Os mitos do eucalipto A edição da Gazeta do Povo do dia 1º do corrente divulgou opiniões e apreensões de prefeitos e outras pessoas sobre o cultivo de eucaliptos em municípios do Norte do Paraná, cuja expansão da cultura significaria prejuízos pela degradação do solo, como a cultura de cereais, por estar “invadindo áreas antes cultivadas com soja, milho e cana-de-açúcar” e que “para conter o avanço do eucalipto os prefeitos da região, conforme o prefeito de Ibaiti estuda a possibilidade de promover um zoneamento agrícola e criar uma barreira para impedir que a espécie tome o lugar de outras culturas”. O que certamente seria um Plano Diretor para ordenar o desenvolvimento rural é, em tese, louvável, mas de difícil realização, uma vez que as regras para utilização da propriedade rural já estão estabelecidas pela Constituição e leis decorrentes. Quanto à opção do agricultor de cultivar o que mais lhe convém é o direito da livre iniciativa garantida pela Constituição de 1988. Os argumentos contrários ao cultivo florestais ali alinhados, em síntese, são os seguintes: comprometem a qualidade do solo; secam os mananciais; prejudicam as culturas que geram mais renda; empobrecem o solo; afetam a fauna e a flora; são variedades exóticas; essas árvores produzem substâncias tóxicas e eliminam plantas ao seu redor; e destroem nascentes. Contudo, não houve imposição dos cultivos florestais, o que faz crescer sua demanda são as vantagens para todos. Seriam argumentos incontestáveis se estivessem fundamentados em estudos e pesquisas científicas. Estas, entretanto, existem e confirmam o contrário. Vejamos o que dizem pesquisas de órgãos competentes e insuspeitos: a) O consumo de água da cultura do eucalipto é menor que na maioria das espécies cultivadas pelos nossos agricultores, como soja, café e trigo, também exóticos. b) Quanto ao potencial das espécies em “secar mananciais” respondem a Universidade Federal de Viçosa, a UFPR, a Unicamp e o Instituto de Pesquisas Florestais, em artigo publicado na Revista Veja em abril de 2008, em matéria sobre a cultura do eucalipto, contestando alguns mitos, entre eles o que diz respeito ao consumo de água pela espécie. Para a produção de um quilo de madeira de eucalipto são consumidos 350 litros de água. Já um quilo de grãos de soja exige 2.000 litros de água. Comparações entre espécies de eucaliptos com outras essências florestais mostram que plantios de eucalipto no Brasil consomem a mesma quantidade de água que as florestas nativas. Estudos comprovam que a água disponível para o eucalipto é proveniente, sobretudo, da camada superficial do solo. Normalmente suas raízes não ultrapassam 2,5 metros de profundidade e não conseguem chegar aos lençóis freáticos. c) Quanto a prejudicar culturas que geram mais renda devemos lembrar que as pequenas e médias propriedades rurais, com ênfase às primeiras, sobrevivem não de uma única cultura, mas sim do conjunto delas, o que é chamado “sistema de produção”. Nestas propriedades a cultura do eucalipto faz parte deste sistema, coexistindo com a pecuária e agricultura tradicional e contribuindo na renda do conjunto de atividades. Trabalhos desenvolvidos conjuntamente entre Embrapa-Florestas, Emater e Seab demonstram que a atividade, quando inserida nos sistemas de produção, apresenta rentabilidade superior, sendo, contudo, um investimento de médios e longos prazos. d) Sobre o empobrecimento do solo, pesquisas independentes já mostraram, também, os efeitos benéficos do eucalipto sobre diversas propriedades do solo, como estrutura, capacidade de armazenamento de água, drenagem e aeração, entre outras. Vale a pena frisar que quase tudo que o eucalipto retira do solo, ele devolve. Após a colheita, cascas, folhas e galhos, que possuem 70% dos nutrientes das árvores, permanecem no local e incorporam-se ao solo como matéria orgânica. e) O argumento de que a fauna e a flora são afetados negativamente também merece atenção, pois quando os plantios são realizados de forma orientada e em respeito a Legislação Ambiental vigente, são entremeados com áreas cobertas com vegetação nativa, formando corredores que favorecem a preservação da fauna e da flora, oferecendo condições de abrigo, alimentação reprodução para várias espécies. Com a adoção de modernas técnicas de planejamento de uso do solo, fica garantida a biodiversidade dos sistemas aquáticos e terrestres. Também não se observa, em áreas de plantio do eucalipto, qualquer efeito de produção de substâncias tóxicas que impeçam o crescimento de outras espécies, prova disto são áreas implantadas no estado onde se realiza, com sucesso, o consórcio da árvore com pastagens (sistemas silvipastoris) e com a agricultura tradicional (sistemas silviagrícolas). É preciso que tenhamos consciência da frágil realidade florestal do Paraná, que com uma conjuntura composta por mais de 1.200 indústrias e 350 mil trabalhadores, desponta como segundo produto da pauta de exportações do estado. Mas, não por largo horizonte, estamos na iminência de um “apagão” no setor caso não cuidemos imediatamente de suprir o déficit entre disponibilidade florestal e consumo. Diante do que precisamos cultivar no mínimo 57 mil hectares, a mais do que vem sendo realizado, para estabelecermos o equilíbrio a partir de 2021. Daí a importância de levarmos aos paranaenses os meios para que em conjunto possamos alcançar essa meta. As opiniões precisam vir a público para que dúvidas se esclareçam e, pelo diálogo sereno e honesto, não só asseguremos o funcionamento do sistema como ainda possamos ampliá-lo, criando novas oportunidades de desenvolvimento sustentável no campo e nas cidades. Nivaldo Passos Kruger é secretário especial de Desenvolvimento Florestal Fonte: Gazeta do Povo