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terça-feira, 7 de agosto de 2012

Santo Carvão do 'Pau Duro'


Santo Carvão do 'Pau Duro'

Artigo de Sebastião Renato Valverde

segunda, 06 de agosto de 2012
 Durante anos o carvão vegetal foi, injustamente, culpado pelos desmatamentos no Brasil e eleito o vilão das florestas. Em virtude especialmente disso, o Poder Público passou a adotar uma política perversa de proteção florestal sob a ótica do comando e controle, de natureza burocrática, cartorial, ineficiente e sem paralelo no mundo.

Injustiças à parte, o importante é que o Brasil implantou um programa de incentivos fiscais ao reflorestamento para que as indústrias pudessem consumir madeira sem ter que desmatar. Como a maioria delas se viu forçada ao auto-abastecimento dado o desinteresse dos produtores na época, o mercado florestal, até por características intrínsecas à madeira, acabou sendo constituído de forma verticalizada. Para sorte dos produtores que a partir da década passada investiram em reflorestamento, as siderúrgicas não seguiram este caminho da verticalização, sendo obrigadas a deles comprar.

Embora fosse provável que a área de floresta nativa não suportasse a demanda de carvão caso não existisse a alternativa das plantações – o que agravaria o fatídico desmatamento -, nada justificava a submissão do Estado pelo sedutor discurso etno-ambientalista que trucidou com o carvão e com seus pequenos produtores, ao alegar os impactos sociais e ambientais dele decorrente.

Não há nada de errado com o carvão que justifique tamanha paranóia de gestão ambiental apta a inviabilizar e desestimular investimentos florestais em Minas Gerais, a ponto deste se ver forçado a assistir a sobrepujança florestal de Estados vizinhos, como a do Mato Grosso do Sul. Pelo contrário, há e haverá grandes impactos sem ele. Há que se reverenciar o carvão por tudo que tem de bom e contra tudo de mau que fizeram para com ele, como descritos em diversas matérias, dispensando maiores comentários.

É lamentável o abandono da siderurgia a carvão à própria sorte, prejudicando toda uma cadeia produtiva mais sustentável do que a do substituto coque, mesmo que haja indícios de que parte do carvão seja de origem ilegal. Há que se combater rigidamente a ilegalidade, mas sem prejudicar quem age legal.

Estranho como o Poder Público é ágil em se contrapor à produção de carvão quando este é difamado, mas é letárgico em reconhecer suas boas qualidades. Isto se deve ao fato de que a cadeia do gusa gera pouco ICMS para um estado mais dominado pela fúria arrecadatória do que preocupado com a questão socioambiental. Uma lástima, ao saber que poucos produtos têm a importância para a sustentabilidade como o carvão. Que produto pode viabilizar a produção nas regiões montanhosas onde reina a decadência e o esvaziamento rural?

Neste mundo globalizado, o que o Estado faz para proteger a indústria da cadeia do carvão em relação à pressão dos produtos a base de coque? Não há que se impor barreiras para defender suposta ineficiência das guseiras a carvão, mas há que se fazer algo no sentido de valorizar as diferenças socioambientais dele.

Sobretudo agora nesta crise mundial em que os países do leste europeu estão, por meio de dumping, desovando seus excessos de produtos siderúrgicos de péssima qualidade ambiental. Fato que implica e significa, além do uso do coque, numa inexistência de política e gestão ambiental como a brasileira.

A retórica ambiental não foi suficiente para sensibilizar o mundo a favor do aço “verde” e nem o Brasil goza deste diferencial. Pelo contrário, os órgãos públicos, seduzidos pela soberba do discurso contra o desmatamento e trabalho escravo, subtraem estas vantagens comparativas brasileira da indústria do carvão.

Em que pese o histórico de perseguição ao carvão em Minas Gerais, o que se verifica é que, até hoje, sequer os próprios órgãos oficiais possuem estatísticas confiáveis sobre o que de fato é carvão ilegal, ou seja, oriundo de desmatamento ilegal e feito, único e exclusivamente, com o fito de produzir carvão, pois muito do oriundo de mata nativa é como aproveitamento da biomassa resultante do prévio desmatamento autorizado para se agricultar.

Jamais o Estado poderia ter sido manipulado por esta conspiração florestal. Mais do que um indulto, já passou da hora de se fazer uma menção honrosa ao carvão vegetal. Como recompensa a esta injustiça, cabe ao Poder Público, diante da vocação siderúrgica e florestal, facilitar e estimular o crescimento da indústria do carvão. É o mínimo de distinção que se faz à execração sofrida por oportunistas de plantão que se dizem arautos do ambiente e do social.

Não se trata de fazer apologia ao carvão, produtor do aço “verde”, mas uma coisa é certa, santo do “pau oco” ele não é, haja vista que não compensa carbonizar “embaúba fina do oco largo”.
Fonte: artigo publicado no site Celulose Online

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