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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Floremildo, um idiota.

De: Beto Mesquita Para: redeflorestal-br@yahoogrupos.com.br; Rede Florestal - RJ Enviadas: Domingo, 12 de Julho de 2009 13:31:07 Assunto: [redeflorestal-br] Feliz Dia do Engenheiro Florestal Floremildo, um idiota. Beto Mesquita* Floremildo é um idiota. Mas não um idiota como outro qualquer. Floremildo é um idiota que sabe das coisas. Ao contrário do seu primo-irmão Eremildo, nacionalmente famoso graças às inúmeras citações às quais fez jus na coluna do Gaspari, Floremildo é um idiota esclarecido. Nessa disputa toda entre ruralistas e ambientalistas, por exemplo, Floremildo não tem dúvidas de que lado está engajado, mesmo não entendendo muito bem quais são exatamente os argumentos para terem colocado uns contra os outros. Mas Floremildo não poderia ficar de fora, não poderia deixar de dar sua opinião. Mesmo quando sua opinião reduz-se a simplesmente a concordar com a opinião de outra pessoa. Floremildo é assim mesmo, meio adesista e sem muita paciência – ou sem muito talento, até hoje não se definiu – para elaborar suas próprias opiniões. Mas tudo bem, afinal, tem sempre alguém que pensa igualzinho a ele, só que com mais traquejo, ou pelo menos com mais tempo, para expressar suas próprias opiniões. Como bom idiota, Floremildo não entende muito bem de pesquisas e de estatísticas. Mesmo assim, achou estranho quando um pesquisador afirmou que mais de 90% de um grupo de pessoas que haviam respondido a um questionário achavam que se deveria mudar o Código Florestal do país. Até aí tudo bem, pensou Floremildo, afinal, ele próprio havia respondido ao mesmo questionário e estava entre a grande maioria que entendia ser necessário haver mudanças. Mas o que Floremildo ficou sem entender foi o fato de o pesquisador ter dado a entender que esta imensa maioria que propunha mudanças corroborava com as mesmas mudanças propostas pelo próprio pesquisador. Mas tudo bem, Floremildo é um idiota, ele não poderia mesmo entender as nuances da tendenciosidade no método científico. Mas o que Floremildo gosta mesmo é de textos bem escritos, rebuscados, cheios de citações. Mesmo que ele não seja capaz, ou simplesmente não tenha tempo, de compreender muito bem ou analisar criticamente a maior parte do que está lendo, Floremildo se encanta com textos assim. Outro dia, ao deparar-se com um tratado sobre direito, Floremildo ficou tão extasiado que anunciou publicamente que guardaria o texto para os anais das consultas periódicas. Quando o próprio autor se corrigiu, dando-se conta que mais da metade do que escrevera bonita e estilosamente não correspondia à realidade conceitual dos fatos, Floremildo sentiu-se um idiota. Isso já havia acontecido antes, naquele episódio em que um doutor da pesquisa agropecuária misturou alhos, cebolas e bugalhos e produziu uma pérola estatística cujas conclusões eram tão robustas quanto pasteis de vento. Quando coisas assim acontecem, Floremildo opta pelo silêncio. Afinal, ele pode até ser um idiota, mas não faria o papel de anunciar que deletara dos seus anais os equívocos alheios pelos quais tanto havia se encantado. Floremildo é do bem. Não quer mal a ninguém. Acredita sinceramente que a solução para todos os males e entraves do mundo, do licenciamento ambiental ao parto natural de cócoras, passando pelo manejo florestal, pelas unhas encravadas e pela qualidade ambiental das bacias hidrográficas, está na estabilidade das regras. E regras simples. Mas Floremildo também acha que certas coisas não deveriam ser regradas, que o melhor é deixar cada um fazer o que acha que seja o melhor. Ou que certas regras ficariam muito melhores se fossem estabelecidas pelo vizinho e compadre, que no momento é o atual prefeito da cidade onde ele mora. Floremildo é devoto de São João Gualberto. Mas justifica-se ao considerar sua obra apenas uma metáfora a ser estudada, não um exemplo a ser seguido. Afinal, Floremildo, que é idiota, mas sabe das coisas, percebe muito bem que o mundo é outro, os tempos são outros e já passou da hora de deixarmos de impedir o crescimento do país só por causa de alguns sapos, pererecas e lagartos, ou por causa de uns pedacinhos de mata de nada. Floremildo, que é idiota, mas não é bobo, sabe que já passou o tempo de darmos atenção a uns poucos hippies loucos e senhoras histéricas que ainda acham que podem manter mais de 80% da Mata Atlântica protegidos... O Brasil precisa crescer, precisa de espaço, e a humanidade precisa de alimentos. E Floremildo sabe muito bem de que lado ele está. Afinal, Floremildo pode até ser um idiota, mas ele não tem dúvidas. * Beto Mesquita é um engenheiro florestal ambientalista que gosta de escrever e às vezes se sente um idiota, assim como Floremildo.

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