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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Brasil precisa industrializar sua madeira

28 de Agosto de 2009

Artigo: O Brasil precisa industrializar sua madeira


A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) registra que o Brasil possui 470 milhões de hectares em florestas nativas, onde desponta a Amazônia. Entretanto, menos da metade está acessível para produção florestal devido a uma conjugação de fatores nos quais se incluem as grandes áreas ocupadas por reservas ambientais e indígenas, a ausência de infraestrutura e as enormes distâncias dos centros de consumo. Além disso, as discussões sobre florestas nativas no Brasil são monopolizadas por questões ambientais em que a produção florestal aparece, em boa medida, como um empecilho a ser evitado.

Por conseguinte, a produção florestal brasileira está muito aquém das suas potencialidades excepcionais, em contraste com o que ocorre em países do Hemisfério Norte, com destaque para os nórdicos, onde a cadeia produtiva florestal contribui significativamente para seus PIBs (Produto Interno Bruto). Esses países desenvolveram sistemas para o aproveitamento racional de seus recursos florestais que inclui um dinâmico processo de agregação de valor, transformando o setor em importante vetor de industrialização e desenvolvimento. Em seu entorno, criaram-se indústrias para o beneficiamento da madeira, pólos para projetar e construir máquinas e equipamentos, centros de pesquisa e desenvolvimento, de capacitação e especialização de mão de obra etc.

O Brasil, que até recentemente exportava madeira em tora, apenas engatinha na formação de um modelo produtivo similar. Em que pese nossa produção de celulose, que desponta na modalidade de fibra curta oriunda da silvicultura de eucalipto, agregamos muito pouco valor aos nossos produtos florestais. A par das dificuldades já mencionadas, carecemos de uma política de Estado consistente e duradoura para o desenvolvimento de um verdadeiro sistema de industrialização do ciclo madeireiro. Apenas para mencionar, a exploração e utilização de nossas florestas está sob a égide do Ministério do Meio Ambiente que, por origem e atribuições, pouco tem a ver com qualquer processo industrial.

Apesar das condições adversas, a cadeia produtiva de base florestal no Brasil emprega cerca de 6,5 milhões de pessoas (9% da população economicamente ativa do país), dos quais 2,5 milhões no setor de madeira sólida. Destes, aproximadamente 215 mil são mantidos diretamente na atividade, ou 4,3% do total de empregos gerados na indústria de transformação.

Adicionalmente, várias empresas do setor florestal brasileiro promovem uma maior interação com as comunidades locais por meio de projetos de parcerias e similares. À guisa de exemplo, cita-se o projeto Bom Manejo, dirigido e coordenado pela Embrapa com a participação de empresas do setor. Operando desde 1999, o projeto tem como principal objetivo desenvolver e difundir práticas de bom manejo florestal para serem adotadas tanto por empresas como pelas comunidades.

Alguns segmentos do setor florestal brasileiro se empenham para agregar valor à nossa madeira. Além da indústria moveleira que, em 2007, movimentou mais de R$ 14 bilhões e exportou US$ 1,1 bilhão, existem outras classificadas como PMVA (Produtos de Maior Valor Agregado) nas quais se incluem a produção de molduras, portas, pisos e outros manufaturados que, ainda em 2007, exportaram US$ 2,2 bilhões. São indústrias bastante especializadas, que utilizam um maquinário sofisticado cuja operação exige mão de obra altamente qualificada.

A produção de pisos de madeira ocupa lugar de destaque no grupo PMVA. Em 2007, por exemplo, o Brasil produziu cerca de 34 milhões de metros quadrados em pisos de madeira e suas exportações ultrapassaram US$ 600 milhões. De fato, sua produção dobrou nos últimos dez anos. Mas, mesmo contando com a exuberância da Amazônia e outras florestas, a produção brasileira de pisos ainda é 12 vezes menor que a da China, quatro vezes menor que a dos Estados Unidos e quase quatro vezes menor que a da Europa.

Nesse contexto, é imprescindível uma política industrial para o setor florestal brasileiro e, principalmente, que as autoridades afins considerem que somente com a floresta e seus produtos valorizados é viável garantir seu correto extrativismo, planos de manejo, procedência de matérias-primas e inibir a ilegalidade.

Fonte: Ariel de Andrade / Engenheiro florestal e gerente executivo da Associação Nacional dos Produtores de Pisos de Madeira (ANPM).

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